Projetos
- Políticas públicas, experiências sociais e biolegitimidade: novos regimes biopolíticos, cuidados de si e outras políticas da vida – Projeto de Pesquisa CNPq
Responsável: Sônia Weidner Maluf
Este projeto, que articula diversas pesquisas em desenvolvimento pelos integrantes do Núcleo de Antropologia do Contemporâneo PPGAS/UFSC, tem como objetivo refletir sobre os efeitos de um processo de patologização, psiquiatrização e medicalização das experiências sociais na produção de políticas públicas e nas ações do Estado no campo dos direitos e da cidadania. O foco é o processo de deslocamento provocado pela extensão dos domínios do patológico para o campo das políticas sociais e do reconhecimento, através do qual a legitimidade de certos direitos e reivindicações de grupos, populações, comunidades ou sujeitos sociais passa pelo crivo do reconhecimento de um transtorno, disfunção, doença. Ou seja, um processo em que a legitimidade dos direitos que sustentam certas políticas públicas passa a ser uma biolegitimidade. Os desdobramentos dessa dinâmica são os mais diversos e complexos. Como exemplo podemos citar: o alargamento dos campos do patológico e da medicamentalização no contexto das políticas de saúde mental e da realização da Reforma Psiquiátrica no Brasil; o reconhecimento pelo Estado das demandas de determinados sujeitos sociais através de seu reconhecimento como portadores de um transtorno (por exemplo os direitos ligados às chamadas identidades de gênero de sujeitos transgênero); a adoção de controles medicamentos de crianças e jovens como política de infância e juventude nos abrigos e instituições de menores etc. Paralelamente, será investigado quais são as experiências, práticas e agenciamentos dos sujeitos envolvidos nessas políticas públicas e suas estratégias e modos de reinvenção social. A pesquisas se desenvolverá em três campos etnográficos articulados: 1)as políticas públicas de saúde e saúde mental, políticas para a mulher, infância e juventude, direitos sexuais e cidadania; 2) as experiências sociais e práticas e agenciamentos individuais e coletivos dos sujeitos usuários e alvos dessas políticas; 3) os saberes locais, os saberes científicos e os saberes dissidentes que se articulam, tensionam e constroem campos de legitimidade nesse contexto. De modo geral, pretende-se problematizar a dimensão biopolítica das políticas públicas em relação a outros dispositivos sociais, confrontando-os com aspectos ligados de forma mais ampla às práticas e agenciamentos voltados para o cuidado de si e dos outros. O objetivo é o de pensar como essas três dimensões (estado, saberes e sujeitos sociais) se articulam contemporaneamente e de construir uma reflexão em torno de biopolítica e dos regimes contemporâneos de subjetivação, na direção de uma reflexão sobre a possibilidade e o reconhecimento de outras políticas da vida.
- Gênero, subjetividade e ´saúde mental´: políticas públicas, ativismo e experiências sociais (GESS) – Projeto de Pesquisa CNPq e FAPESC
Responsável: Sônia Weidner Maluf
Este projeto de pesquisa tem como foco os cruzamentos entre gênero, subjetividade e “saúde mental” nas culturas urbanas brasileiras contemporâneas, através de uma análise das políticas públicas, do ativismo político e das experiências sociais em torno do tema. Esta pesquisa faz parte de um projeto mais abrangente que estamos desenvolvendo já há alguns anos que tem dois focos centrais: uma reflexão antropológica sobre o Sujeito, não apenas como objeto da análise antropológica, mas como uma categoria analítica e como um dos eixos centrais de uma abordagem antropológica do contemporâneo; e, mais especificamente, as articulações entre gênero e subjetividade e uma reflexão sobre o gênero como um dos regimes ou modos de subjetivação e de constituições de subjetividades nas sociedades urbanas moderno-contemporâneas.
- Por uma antropologia do sujeito: Gênero, corpo e subjetividade – Projeto de Produtividade em Pesquisa. CNPq
Responsável: Sônia Weidner Maluf
Este projeto busca dar continuidade às pesquisas que venho desenvolvendo desde o pós-doutorado, realizado entre 2004 e 2005 na Inglaterra, e como bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq desde 2006. O objetivo geral tem sido o de estabelecer alguns tópicos para a elaboração de uma reflexão antropológica sobre o Sujeito, não apenas como objeto da análise antropológica, mas como categoria analítica e como eixo central de uma abordagem antropológica do contemporâneo. Apesar da importância que as discussões sobre pessoa, indivíduo e, mais recentemente, corpo no debate antropológico, não há uma teoria antropológica do sujeito. Por outro lado, nos últimos anos, a temática do Sujeito passou a ocupar o centro das reflexões no campo das teorias sociais e da cultura, fenômeno provocado em grande parte pelo impacto dos estudos culturais, das teorias feministas e da crítica pós-colonial, entre outros fatores, e, particularmente no interior da antropologia, pelo fortalecimento das abordagens centradas no “ator social” e na crítica aos modelos totalizantes.
- Saúde e Uso de Drogas: percepção dos serviços de saúde e da atuação dos agentes, auto-cuidado e itinerários terapêuticos no estado de Santa Catarina
Responsável: Alberto Groisman
Este projeto tem como objetivo geral levantar, sistematizar e analisar a partir de depoimentos pessoais, a percepção dos serviços disponíveis, as estratégias de auto-cuidado e os itinerários pessoais associados à saúde de pessoas envolvidas no contexto de uso de drogas no estado de Santa Catarina. Especificamente procura (1) Analisar e sistematizar diacrônica e sincronicamente os contextos de uso de substâncias psicoativas nas regiões referidas com base nos dados de trajetória dos usuários coletados sobre as seguintes variáveis-tema e fontes: – Práticas de uso; – Itinerários relativos às práticas de uso: de inserção no campo do uso, de permanência no campo do uso, de reconhecimento de inserção em situação prejudicial, associados particularmente à percepção de morbidades, à aplicação de idéias e práticas de auto-cuidado e de busca de orientação e tratamento; e, percepção dos serviços disponíveis e da conduta dos profissionais e outros agentes sociais diretamente envolvidos nos serviços; (2). Levantar a partir de pesquisa de campo as organizações, serviços e programas voltados ao atendimento ou ao acompanhamento de problemas e pessoas associados ao campo do uso de drogas no estado de SC, particularmente aqueles dedicados a promover a saúde de usuários de drogas; (3) Compor e disponibilizar um banco de dados sobre as idéias, as práticas, as motivações e inclinações, e sobre a inserção nas redes de relações sociais e institucionais, das pessoas inseridas no contexto de uso de drogas no estado de Santa Catarina; e, (4) Contribuir para (a) a ampliação do conhecimento sobre o contexto sociocultural e as redes de relações estabelecidas pelo uso de substâncias psicoativas em suas diversas dimensões, (b) para a formação e treinamento de profissionais e agentes de saúde envolvidos nos serviços governamentais e não-governamentais de atenção a pessoas em contexto de uso de drogas, e (c) para o aprimoramento das ações e políticas de saúde no estado de Santa Catarina, através da realização de seminários e cursos envolvendo os agentes e os profissionais de saúde.
- Qualidade de Vida, Saúde e Uso de Drogas em Membros de Religiões Ayahuasqueiras
Coordenação: Alberto Groisman, junto com Michael James Winkelman e Paulo C.Ribeiro Barbosa)
Este projeto propõe uma avaliação da qualidade de vida, saúde física e mental dos membros das Religiões Ayahuasqueiras, ou seja o Santo Daime e a União do Vegetal, que usam a ayahuasca como sacramento. O estudo pretende testar hipóteses sobre saúde e qualidade de vida dos participantes destes grupos em relação à população brasileira em geral; e se, desde que aderiram às igrejas, qual sua propensão ao uso de drogas legais e ilegais. Este estudo empregará instrumentos internacionalmente padronizados. A avaliação da qualidade de vida dar-se-á mediante o Short Form – 36 (SF-36), questionário validado no Brasil e usado na avaliação de diversas populações clínicas e não-clínicas. O uso e abuso de drogas serão avaliados mediante questionários que seguem os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Substance Abuse and Mental Health Services (SAMHSA), e que têm sido amplamente usados em todo o território nacional. Avaliar-se-á também o padrão de uso de substâncias no período anterior à adesão da igreja, o padrão de freqüência aos rituais, os anos e meses de adesão às religiões ayahuasqueiras, aspectos demográficos como idade, e experiências de cura na igreja.
Este projeto propõe um processo de avaliação realizado em colaboração com a organização nacional e as organizações locais das religiões ayahuasqueiras iniciando em Brasília-DF, Brasil. A equipe de investigação, incluindo estudantes do Dr. Winkelman no Brasil e outros voluntários, apoiará o projeto mediante a coleta dos questionários, a codificação e a análise dos dados, a elaboração de relatórios e a publicação dos resultados.